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Nutrição e Período Gestacional

A gestação é um momento especial na vida da mulher e de todos que estão ao redor. É marcado por intensas transformações físicas, hormonais e também emocionais.

 

Atualmente existe uma grande preocupação com o ganho de peso durante a gestação. Um ganho de peso acentuado pode expor a mulher e bebê a riscos. A expectativa de ganho de peso total deve levar em consideração o estado nutricional materno pré-gestacional, conforme demonstrado na tabela abaixo:

 

 

A mudança de peso, não está relacionada apenas ao peso do bebê. Existem alterações de diversos compartimentos corporais.

 

 

Fonte: InstituteofMedicine (IOM-2009)

 

A gravidez é considerada um dos períodos de maior vulnerabilidade nutricional na vida da mulher, pois nesse momento o organismo precisa suprir as necessidades nutricionais materna e de toda demanda da gestação até o final. A medida que a gestação evolui, a necessidade relacionada ao  desenvolvimento e incremento também sofre aumento.

O ganho de peso é esperado e pode ser controlado. O aumento de peso mais significativo ocorre principalmente no 2º e 3º trimestre de gestação.

A programação da conduta nutricional de forma precisa e individualizada facilita a adesão e garante resultados satisfatórios. A Calorimetria Indireta em Repouso, exame não invasivo, baseado na troca de gás (oxigênio e gás carbônico) avalia com precisão a TMB e permite um direcionamento mais efetivo para cada trimestre.

O acompanhamento nutricional durante este período é de fundamental importância para garantir bom estado nutricional da mãe, adequação do hábito alimentar, evitar riscos de carências nutricionais, controle de ganho de peso e preparação para período do aleitamento materno.

 

 Alguns nutrientes têm necessidade aumentada no período gestacional e merecem atenção, são eles:

 

·       Vitaminas do complexo B

·       Ferro

·       Iodo

·       Zinco

·       Selênio

·       Ácido fólico

·       Vitaminas A, C e D

 

 

Estudos sugerem, que a deficiência nutricional pode ser uma importante causa do baixo peso ao nascer, do retardo no crescimento, pressão alta na gestante e do risco aumentado para o bebe desenvolver doenças crônicas como diabetes, colesterol alto na idade adulta.

A gestação tem duração de cerca de 40 semanas completas ou 280 dias. É dividida em trimestres e para cada um deles existe característica nutricional relevante.  

 -Primeiro trimestre:

As primeiras semanas são decisivas para formação e fechamento do tubo neural, que posteriormente se desenvolverá para formar o cérebro e a medula espinhal. A necessidade de folato aumenta também em função da rápida proliferação celular. A suplementação deve ser iniciada antes da concepção e mantida até o término do primeiro trimestre.

 

-Segundo trimestre:

A partir do segundo trimestre, observa-se um aumento em torno de 15-20% na Taxa Metabólica Basal (TMB) da gestante para suprir as necessidades do feto. É importante ajuste do consumo calórico da mãe sem perder o foco na qualidade.

A gestação é um período anabólico, ou seja, de síntese/construção para formação do bebê, que requer quantidade extra de energia. Entre alguns dos motivos para o aumento das necessidades energéticas estão: crescimento e manutenção fetal e da placenta, formação de novos tecidos maternos, armazenamento de gordura e aumento do metabolismo materno.

Na gestação, a concentração plasmática da vitamina C diminui progressivamente. A vitamina C age na formação do colágeno, que compões os tecidos, ossos e cartilagens, melhora absorção do ferro e fortalece o sistema imunológico. A sua deficiência aumenta o risco de infecções, ruptura prematura de membranas e o pode levar a trabalho de parto prematuro.

 

-Terceiro trimestre:

O ferro é um elemento fundamental na transferência de moléculas de oxigênio para a respiração de células maternas e fetais, além da produção de energia. Durante a gestação a necessidade de oxigênio é maior, duplicando a demanda deste mineral.

Além disso, é importante considerar fatores como o crescimento do feto e uma necessidade de compensar eventuais perdas durante o processo do parto. No feto, além da formação da hemoglobina, o ferro é essencial para o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central através da síntese de enzimas responsáveis pelo metabolismo cerebral.

Durante o período gestacional, as necessidades de ferro variam e a absorção do ferro alimentar, que é baixa no primeiro trimestre aumenta de forma progressiva chegando a triplicar por volta da 36ª semana de gestação em função do aumento da massa eritrocitária para suprir as necessidades do feto.

A suplementação preventiva e rotineira de ferro para todas as gestantes é recomendada, mesmo na ausência de anemia, objetivando satisfazer o aumento dos requerimentos desse mineral durante os dois últimos trimestres gestacionais. Tal fato deve-se à dificuldade de atendimento das necessidades de ferro serem atingidas somente pela ingestão dietética.

A OMS recomenda suplementação de 40 mg/dia de ferro como medida profilática à mobilização dos depósitos.    

   

Outro nutriente importante é a vitamina D. Está envolvida no funcionamento do sistema músculo- esquelético, regula o metabolismo do cálcio e do fósforo juntamente com o paratormônio e a calcitonina (tireoide). Em função da demanda de cálcio aumentar no terceiro trimestre da gestação, o status dessa vitamina se torna crucial para a saúde da mãe, para o crescimento esquelético e para bons resultados maternos e fetais.

A deficiência de vitamina D em gestantes aumenta o risco de pré- eclampsia, resistência à insulina, o diabetes mellitus gestacional, aumento da frequência de parto cesáreo e o parto pré-termo. Após a gestação pode trazer consequências nos recém-nascidos como baixo peso, raquitismo neonatal, o risco de hipocalcemia neonatal, asma e/ou diabetes tipo 1.

Outro foco importante é o consumo adequado de proteínas, responsáveis pelo crescimento e manutenção dos tecidos. A medida que a gestação evolui o consumo deve ser aumentado.

 

Gestação e cirurgia bariátrica

O excesso de peso e a obesidade são doenças de prevalência crescente na população adulta brasileira. Atualmente cerca de 50% das mulheres brasileiras em idade fértil estão acima do peso.

Mulheres com obesidade tem maior chance de iniciar a gestação com a saúde comprometida. A hipertensão arterial sistêmica, (HAS) é o fator de maior impacto na avaliação do risco de morte materna durante a gestação. Toda gestante corre o risco de desenvolver pré-eclâmpsia e diabetes gestacional, mas nas mulheres obesas esse risco é aumentado. O IMC alto está relacionado com o aumento na indicação de cesárea, infecções na ferida cirúrgica, hemorragias e fetos macrossômicos e com anomalias.

A obesidade materna ou o ganho de peso gestacional excessivo aumenta o risco do feto nascer com excesso de peso. Existe uma associação direta entre IMC e risco de macrossomia, o que é decorrente da resistência à insulina aumentada em grávidas obesas, o que leva à hiperinsulinemia fetal, importante fator para o crescimento intrauterino. Além disso, a presença de lípases placentárias que clivam triglicerídeos presentes em excesso nas pacientes resistentes à insulina leva a maior aporte de ácidos graxos livres para o feto.

A cirurgia bariátrica é considerada o método mais efetivo para o controle de peso e doenças associadas em pessoas com IMC >35 com doenças associadas ou com IMC > 40. O emagrecimento traz benefícios relacionados à fertilidade tanto no homem quanto na mulher. A perda de peso decorrente da cirurgia nas mulheres pode restabelecer os ciclos ovulatórios melhorando a fertilidade e a possibilidade de uma gravidez, sobretudo naquelas que apresentavam síndrome de resistência à insulina e/ou síndrome de ovários policísticos no pré-operatório.

Recomenda-se que as mulheres submetidas à cirurgia esperem pelo menos 12 a 18 meses para tentar engravidar, pois a rápida perda de peso inicial após o procedimento tem um potencial para déficits nutricionais, que podem causar problemas tanto para a gestante quanto para o desenvolvimento fetal.        

         

Embora a cirurgia reduza significativamente os riscos durante a gestação, é importante lembrar que a gestante submetida a uma cirurgia bariátrica deve manter acompanhamento não apenas do obstetra, mas também do cirurgião que a operou, endocrinologista e de uma equipe de nutrição.

Após o parto, durante o período de amamentação, como é recomendado pela OMS por pelo menos 6 meses, as mães após a cirurgia bariátrica, também devem ser encorajadas a amamentar seus filhos recém-nascidos. É evidente que a nutrição materna tem um impacto sobre a qualidade de seu leite. Por conta disso, é essencial manter a suplementação de micronutrientes também após o parto e durante a amamentação, para garantir uma ingestão adequada de nutrientes pelo bebe. 

A gestação após cirurgia bariatrica é segura tanto para a saúde materna quanto para o bebe, deve ser acompanhada por equipe epecializada.

 

Referências:

 

DietaryReferenceIntakes - Journalofthe American DieteticAssociation, 2001.In: Nutrição e Alimentação na Gestação – Compacta Nutrição, 2002

 

Sant’Ana LFR, Assis KF, Oliveira RMS. Mudanças fisiológicas durante a gestação e riscos associados à gestação na adolescênci a. In: Priore et al., organizadoras. Nutrição e Saúde na Adolescência. Rubio: Rio de Janeiro, 2010. p. 317-26.

 

Vitolo MR. Nutrição da gestação ao envelhecimento. Rio de Janeiro: Rubio, 2008.

 

MARQUES R. R, MARQUES R.R, MARQUES, I; Gestação após cirurgia bariátrica: série de casos e revisão de literatura, Unoesc & Ciência - ACBS Joaçaba, v. 7, n. 1, p. 69-76, jan./jun. 2016

CARNEIRO J.R.L, BRAGA F.O, CABIZUCA C.A, et al; Gestação e obesidade: um problema emergente; Revista HUPE, v.13, n. 3, jul/set 2014.

KASKA,L, KOBIELA,J, ABACJEW-CHMYLKO, A, et al; Nutrition and Pregnancy after Bariatric Surgery; ISRN Obesity Volume 2013.

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Obesidade e gestação. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/Obesidade%20e%20gestacao.pdf (Acesso em 14/02/2018)

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